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Peguei o primeiro ônibus que vi e fui numa aventura a um desconhecido. Ele percorria lugares que eu conhecia e destes tantos lugares, um que traria lembranças. Logo eu, que apenas queria sair de algo queria agora voltar a outro, meu sair é simplesmente entrar em outra coisa... Desloquei-me a uma praça. Não era como todas as outras que já tinha visto, essa tinha alguém que mesmo ao longe e em movimento consegui enxergar. Tão confuso pelo momento, guiei minha mão para cima buscando aquela cordinha. Depois de tatear duas vezes o vazio, consegui puxar e assim pedir pra que o ônibus parasse. Então por um instante eu parei e respirei, cada suspiro entoava na minha mente a pergunta: quem será ela? Nunca tinha visto-a antes, mas pra mim é como se fôssemos destinados a nos ver, nos falar, a compartilharmos nossas vidas.
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E ela questiona novamente:
— Está tudo bem mesmo?
Respondo: — Na verdade não...
Ela pergunta:
— Você quer me contar o que está acontecendo? Talvez eu possa ajudá-lo ou pelo menos tentar, mas só poderei fazer isso quando você me disser.
Não aguentando mais aquela situação e meus dias que começam as 7h por motivo algum então resolvi falar:
— Você já parou pra pensar o sentido de tudo? O motivo de viver, estar fazendo as coisas que faz e simplesmente não encontrar uma razão concreta para isso? Eu sempre me entedio ao pensar nessas coisas, mas é incrível como essas indagações sempre decaem sobre mim. Sei que não sou o único a me preocupar com isso, acho que perguntas como essa já desafiaram homem por séculos e uma real resposta nunca foi encontrada. Hoje quis fazer algo diferente para encontrar esse algo concreto, uma resposta para mim. Então quebrei minha rotina, peguei o primeiro ônibus que vi e ao passar por aqui, mesmo distante consegui lhe ver. Achei que você poderia ser a resposta para minhas dúvidas ou quem sabe o rumo que poderia ter para encontrar essas respostas. De tantas dúvidas queria ver em você a minha certeza, a minha resposta.
Ela então se admirou comigo, alguém que até então só conseguia dizer um sim como resposta dizer tantas coisas interessantes. Depois disso, fiquei em dúvida sobre ela, estando ali tão cedo e aparentemente tão solitária.
— O que fazes aqui com esse olhar tão solitário?
Ela então me surpreende respondendo:
— Apenas te esperando... Toda manhã venho aqui em busca de respostas também, faço isso há muito tempo. Não encontro em outras pessoas as razões pela qual busco, mas acho que minha busca acabou agora que te vi.
Eu simplesmente me senti confortavelmente atingido pela sua mensagem. Aproximávamo-nos um do outro, minha mão era guiada em direção ao seu rosto e conseguia pouco a pouco ouvir sua respiração e a doçura de sua face meiga próxima a minha. Quando estava tão próximo a beijá-la...
Escuto um som. Abro meus olhos, era meu celular e vejo que são 7h. Eu que há tempos reclamava que não possuia um sonho, hoje desfrutei de um. Queria dormir de novo sentir aquele doce prelúdio do ósculo, mas era algo impossível. Então tomei banho, me arrumei e saí.
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Esse ônibus é a nossa vida, que nos guia pela nossa vontade num caminho cheio de dúvidas com as quais temos sempre que nos desafiarmos a entender. Não sei se poderei encontrá-la, nem sei se ela espera por mim, mas já estou nesse ônibus e pela janela eu observo até te encontrar e quando assim fizer, pode ter por certo, que puxarei essa cordinha e irei até você, buscando explicações das dúvidas que de mim criei e que apenas você poderá me ajudar.
Wellington Sousa