quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Lábios num Copo

Um leve balançar de cabeça, membros que desejam desmanchar e sair do resto de meu corpo, como um sinal de liberdade dessa prisão que é dormir. Tudo isso nessa manhã de Quinta-feira. Minha cama parece muito mais aconchegante que qualquer outro lugar que estivera, como se dela não houvesse lugar melhor e nem lugar melhor dela houvesse.
Pus meu calçado e, saindo daquela condição de mero objeto da preguiça, deslizei meus pés suavemente como se estivessem apenas alisando o chão e este que me guiando para compensar o que de mim sentia falta naquele momento. Estava atrás de algo que acalmasse a inquietude de meus lábios.
Poderia eu pensar em algo muito melhor para preencher isso, no entanto, num Lapso Freudiano, não era dotado de vontade e apenas me deixei guiar pelo que nem mesmo conheço, Eu.
Minha cabeça muito mais pesada que o fardo de lutar, pôs o nariz em direção ao chão, onde fazia dos azulejos quadrados um caminho que se construiu no meu não pensar instintivo.
Ouvi vozes que me desejavam um Bom Dia, mas era como se o Dia fosse muito pequeno diante o que eu tenho que pensar, de agir e que eu tenho para conhecer da imensidão que é o mundo e da tão curta que é a vida.
Ainda assim, continuava a inquietude de meus lábios. Poderia eu, num sinal de romantismo, buscar outrem para sanar meu desejo, mas quem? Meus pais são troféus, que espelho como um ser dotado de sentimentos, mas não desejo-os, agora, para saciar essa sede momentânea que possuo. Voltaria então a pensar no outrem.
Será que poderia esse resolver o que sinto ou apenas aumentaria o vazio de mim? Pois poderia ser algo muito mais carregado de sentimentos, no entanto de nada se preenche. Pensando bem, não queria sentimentos, nem nada tão humano assim.
Quando ergui minha cabeça vi algo que poderia resolver aquilo. Puxei a porta daquela que parecia ser apenas mais um cômodo de minha casa. Senti algo nos pés, um frio que me fez acordar. E num leve lançar de mão, prendi o que seria mais lógico para conter minha sede. Após fechar a porta, peguei algo para residir o fluido que iria curar o que sentia e não queria sentir.
O som daquilo que derramara era algo fascinante, parecia que eu tinha um fruto da natureza ou pelo menos, o poder sobre ele. Poderia eu interromper esse ato? O poder por vezes vicia...
Ao fazer o elo, pudera sentir de forma tão poética, o que para muitos era algo tão comum. Após conter o meu desequilíbrio em busca do tal fluido, percebi que não tinha na verdade essa sede por ele, queria mesmo era algo, que pudesse levar e sentir. Um beijo não poderia me fazer sentir isso, nem o limpar da pureza que guarda um linho poderia o mesmo.
Queria só aquilo: meus Lábios num Copo.
Wellington Sousa